O fim da era plastificada do marketing digital: a revolução TikTok – o ponto cego corporativo
Por Lívia Gammardella*
Começamos pelos dados. Eles dizem tudo: a previsão de crescimento do TikTok é de que ultrapasse os 1.5 bilhões de usuários nos próximos 12 meses – e aqui está a parte curiosa. O Instagram desde 2018 se manteve no número de 1 bilhão de usuários ativos e ali estagnou. Apenas com esses dados e comparações já deveríamos ficar atentos e interessados na plataforma como um meio de vendas, marketing, lucro. Mas, se você quer mais provas de que seu negócio precisa estar onde o público está – e acredite, o TikTok não é um app de dancinhas para crianças – eu te mostro.
Para começar a falar sobre a popularidade do aplicativo, devemos entender seu sistema. Diferente de todas as outras redes sociais, ele tem uma capacidade surpreendente de determinar conteúdos correspondentes aos seus interesses, e por isso se torna tão viciante, por se tratar de um conteúdo totalmente personalizado aos seus gostos. É a partir dessa seleção individualizada que começamos a entender seu crescimento astronômico. O segredo do sucesso no app está em criar conteúdo focado no seu público alvo e falar sobre assuntos que gerem identificação. A partir disso, a entrega é garantida.
Com tudo isso na mesa, vemos que essa é uma grande oportunidade para empresas aumentarem seu reconhecimento de marca e criarem conexões reais e humanas, tendência fortíssima nas redes sociais – o conteúdo empático tem se sobressaído à comparação do marketing tradicional, pessoas buscam histórias reais, apresentadas por pessoas reais. A credibilidade de uma empresa vem da proximidade e verdade de seus discursos, que só pode ser atingida com um conteúdo humanizado. E é aí que o TikTok pode ajudar uma empresa a se destacar. A partir de conteúdos pouco editados, espontâneos, autênticos e seguindo trends orgânicas, a mensagem se torna mais verdadeira e de fácil identificação.
Criar uma comunidade online nunca foi tão fácil, mas para isso é preciso entender a melhor maneira de se comunicar com os usuários da plataforma. Uma empresa B2B, por exemplo, pode se comunicar com o B2C sem deixar de falar de seus produtos, criando uma narrativa que demonstre como seus produtos podem facilitar a vida do consumidor final. Ou ainda usar a plataforma como meio de expor a cultura e ambiente de trabalho da empresa, destacando o dia a dia dos colaboradores e incentivando a participação destes. E sobre o retorno disso tudo? Os índices são ótimos. A plataforma ainda pouco explorada por empresas garante menos competição, o que leva a um menor custo por aquisição. A fintech britânica Tally (@meettally) constatou que o CPA do TikTok foi 300% mais barato que no Instagram.
A verdade é que independente do segmento, ter sua marca presente onde as pessoas estão faz toda a diferença. Hoje existem marcas com comunidades enormes, repletas de pessoas engajadas e que se sentem representadas, conectadas e pertencentes, sem ter ao menos feito uma compra ali na vida. É interessante refletir sobre isso para entender o poder de uma marca.
Empresas têm se tornado influenciadoras de pessoas, concorrendo lado a lado com a nova profissão. A partir de narrativas que inspiram, de histórias, valores e perspectivas compartilhadas, uma empresa se torna forte, contando com verdadeiros exércitos. A chave vira quando entendemos que a longo prazo, é isso que trás resultados. O planejamento estratégico por trás dessas ações é o que irá garantir uma comunicação fluida que passe a mensagem correta alinhada com os objetivos da empresa.
Quando comparamos o tipo de conteúdo do TikTok e Reels do Instagram, por exemplo, observamos uma clara diferença. De um lado, um conteúdo menos elaborado – sincero, direto ao ponto – mostrando o lado real e humano das pessoas. De outro, mega produções, conteúdos pré planejados, edições profissionais – o “marketing” puro.
Podemos concluir que o marketing de influência está mudando. No TikTok, somos influenciados por pessoas que não conhecemos e talvez nunca voltemos a ver. O que importa ali não é quem você é e sim o que você tem para oferecer. Essa é a dica imprescindível: mostre sua empresa sem filtros. Autenticidade e espontaneidade são as palavras da vez. O que faz sua empresa ser única? Qual é o lado humano que ela tem para mostrar? Fale de erros, acertos, aprendizados, lições e demais acontecimentos, o objetivo é fazer pessoas se identificarem com o que você tem a dizer, e isso só é possível a partir de discursos reais.
Eu particularmente acredito que com tantas mudanças externas no mundo que vivemos nestes últimos dois anos, mudamos por dentro também. Passamos a dar mais valor para o que nos faz bem e pudemos perceber o verdadeiro sentido e peso das coisas. A partir dessa percepção, o superficial ficou raso demais. Ninguém mais quer consumir um conteúdo que gere sentimentos de decepção, escassez e desilusão, queremos usar nosso tempo na Internet de maneira proveitosa, com conteúdos transparentes que transbordem colaboração, conexão e inspiração.
Essa tarefa pode ser difícil, estamos sendo obrigados a nos desapegar para passar a enxergar o impacto social positivo em todas as áreas. Nós, profissionais, entendemos a dificuldade dessa mudança, e nosso desafio está em fazer com que essa transição seja o mais confortável possível, sem deixar que empresas fiquem para trás ou parem no tempo e percam oportunidades fantásticas.
Devemos lembrar que a presença de marca e a criação de uma comunidade online é de extrema importância na era digital, em que as redes sociais tem se tornado o caminho principal entre consumidor e compra. Com uma boa assessoria e profissionais que entendam a plataforma e o público ali presente, essa narrativa pode ser construída visando os melhores resultados para a empresa, sem perder a linguagem humanizada que a audiência pede.
*Livia Gammardella é consultora de digital da Latam Intersect PR, agência de comunicação corporativa. Responsável por estratégias e planejamentos dos clientes internacionais com foco na América Latina.