Rio de Janeiro, 10 de novembro de 2025 – O transporte público rodoviário, principal
meio de deslocamento da população fluminense, tem cobrado um custo alto dos
passageiros — e não apenas no valor da passagem. A nova edição do relatório De Olho no
Transporte (DOT 5), produzido pela Casa Fluminense, revela que os moradores da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro convivem com as tarifas mais caras do país, um ar cada
vez mais poluído e rotinas de deslocamento que chegam a ultrapassar 50 horas
semanais. O estudo foi apresentado hoje em Belém, no painel da COP30
“Monitoramento cidadão para cidades respiráveis: a transição energética para ônibus
mais acessíveis, limpos e seguros na RMRJ”, e será discutido em detalhes no próximo dia
13 (quinta-feira), na Casa da Cidade, também em Belém, a partir das 18h. O evento é
aberto ao público, e o documento pode ser baixado gratuitamente no site oficial da
instituição.
O DOT 5 fez um raio-X inédito da mobilidade urbana na região metropolitana do Rio de
Janeiro. Ele monitorou a rotina real de quatro passageiros — uma estudante, uma diarista,
uma mãe solo e um motorista de ônibus — e cruzou seus trajetos com dados de poluição
atmosférica via satélite. O resultado é alarmante: 19 dos 22 municípios da metrópole
estão em área de risco para a saúde devido à concentração de material particulado fino
(MP2,5), de acordo com a análise do relatório feito com base no Painel de
Monitoramento da Qualidade do Ar (VIGIAR). Em média, os deslocamentos passam por
regiões com até 0,027 mol/m2 de monóxido de carbono (CO) — níveis associados a
problemas respiratórios e cardiovasculares.
Além do impacto ambiental, o custo do transporte pesa diretamente no bolso e no tempo
dos trabalhadores. A pesquisa mostra que moradores da Baixada Fluminense gastam, em
média, R$ 298,00 por mês e 20 horas semanais apenas com deslocamentos para estudo
ou trabalho. Em cidades como Queimados e Nova Iguaçu, mais de 10% da população leva
mais de duas horas por trajeto, o maior tempo médio do país.
“O transporte é o direito que dá acesso a todos os outros direitos. Quando uma pessoa
precisa escolher entre pagar a passagem ou comer, há uma violação constitucional”,
afirma Luize Sampaio, coordenadora de informação da Casa Fluminense. Em 2025,
completam-se dez anos desde que o transporte público foi reconhecido como direito
social pela Constituição, mas a realidade mostra que esse direito ainda não chega a todos.
Outro dado preocupante revelado pelo relatório é a relação entre transporte e violência
de gênero: 1 a cada 11 casos de importunação sexual registrados no estado ocorre
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dentro de ônibus, trens ou metrôs, e 94% das vítimas são mulheres, majoritariamente
negras.
O documento também aponta que a falta de arborização agrava o calor e a poluição:
cerca de 3,17 milhões de domicílios estão em áreas de ilhas de calor e 36% das casas
não têm nenhuma árvore no entorno. A ausência de verde reforça as desigualdades
territoriais e climáticas que atingem de forma mais severa a Baixada e o Leste
Fluminense.
Para enfrentar o problema, a Casa Fluminense propõe um novo olhar para a mobilidade
urbana, com foco no conceito “triplo zero” — zero emissão, zero tarifa e zero mortes. A
organização defende a ampliação da tarifa zero, já implementada em nove municípios da
região, e a aceleração da transição energética no transporte público.
“A mudança já começou, mas precisa sair do papel e chegar às periferias. A frota limpa e a
tarifa zero são caminhos urgentes para cidades mais justas, resilientes e cuidadoras”,
conclui Luize.
Serviço
De Olho no Transporte: monitoramento cidadão por cidades respiráveis
Data: 13/11, quinta-feira
Horário: 18h
Local: Casa da Cidade (Travessa Rui Barbosa, 257 – Reduto, Belém – PA)
Sobre a Casa Fluminense:
Fundada em 2013, a Casa Fluminense atua no fortalecimento de lideranças e
organizações populares na busca por justiça racial, de gênero, econômica e climática,
impulsionando ações territoriais, monitoramento cidadão e incidência política da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro para o Brasil.





