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A Espanha é o maior doador até agora, com US$ 23,2 milhões. Há expectativa de que a Alemanha seja o sétimo país a anunciar uma contribuição, já que é tradicionalmente a maior financiadora do Fundo desde sua criação.

Autora: Meghie Rodrigues

 

A última semana da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) começou com o anúncio de novas contribuições ao Fundo de Adaptação. No diálogo de alto nível sobre financiamento para adaptação, realizado na manhã de segunda-feira (17), Bélgica, Islândia, Irlanda, Luxemburgo, Espanha e Suécia confirmaram doações que somam US$ 58,5 milhões. A Espanha é, até agora, o maior doador, com US$ 23,2 milhões comprometidos, enquanto a Islândia fez a menor contribuição, de US$ 700 mil.

As reuniões de alto nível costumam reunir autoridades de países presentes na COP e são realizadas em todas as edições do evento. Hoje, ocorreu uma específica para financiamento e adaptação, mas ainda há resultados pendentes sobre o Fundo de Adaptação. “A Alemanha anunciou que vai contribuir também, mas não deu um número ainda. Estamos esperando ansiosos que a ministra (Katherina Reiche, de Assuntos Econômicos e Energia) faça uma fala da sessão de alto nível desta tarde”, afirma Joe Thwaites, advogado sênior de finanças climáticas internacionais do Natural Resources Defense Council (NRDC), organização ambiental sem fins lucrativos com sede em Nova York, nos Estados Unidos.

A expectativa não é infundada: a Alemanha é, tradicionalmente e de forma cumulativa, o maior doador do Fundo de Adaptação, criado pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) em 2001 (e operacional desde 2009) para apoiar projetos que aumentem a resiliência de países vulneráveis às mudanças climáticas. 

“Eles já doaram cerca de US$700 milhões para o Fundo ao longo de sua história e, em tempos recentes, têm doado uma média de US$60 milhões anualmente”, acrescenta Thwaites. Em 2021 a Alemanha doou US$ 58,2 milhões para o Fundo de Adaptação e, entre 2022 e 2024, doou mais de US$ 60 milhões anuais. “Esperamos que o país vá fazer um aporte de proporção parecida este ano”, diz ainda Thwaites.

Ao longo de sua história, o Fundo de Adaptação já recebeu aproximadamente US$ 1,7 bilhão, sendo que a maior parte das contribuições ocorreu na última década. Embora os US$ 58,5 milhões anunciados representem uma fração pequena do orçamento total que países desenvolvidos destinam anualmente à adaptação em nações em desenvolvimento — cerca de US$ 27 bilhões — o Fundo de Adaptação é considerado eficaz.

“O dinheiro do Fundo de Adaptação consegue alcançar projetos que fundos maiores perdem pelo caminho. Seu modelo de financiamento — de concessão de bolsas para projetos — é uma forma de garantir que esse dinheiro chegue de fato a quem mais precisa e está fazendo as coisas acontecerem”, diz Thwaite. 

O fato é que as doações ao Fundo de Adaptação vêm caindo nos últimos anos: em 2021, o total chegou a US$ 356 milhões; em 2022, foram US$ 243 milhões; em 2023, US$ 192 milhões; e, em 2024, apenas US$ 133 milhões.

Se os US$ 58,5 milhões representam apenas uma pequena fração dos US$ 27 bilhões anuais destinados à adaptação, esse montante está ainda mais distante de atender às necessidades reais dos países mais vulneráveis à mudança do clima. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), existe um déficit de cerca de US$ 310 bilhões por ano.

O que mais esperar para esta semana?

Nesta semana acontecem as reuniões de alto nível com ministros dos países. A expectativa de especialistas ouvidos pelo InfoAmazonia é que as negociações de cúpula destravem alguns dos pontos que ainda estão empacados — como, por exemplo, o conjunto de indicadores para medir o sucesso da implementação de ações de adaptação climática. 

De partida, o desafio é chegar a um consenso sobre o que significa “sucesso” quando se fala nos meios de implementação dessas ações. “E isso tem especialmente a ver com o financiamento de ações de adaptação”, diz Gabrielle Swaby, gerente sênior do programa Allied for Climate Transformation by 2025 (ACT2025) do World Resources Institute. 

As discussões técnicas da semana passada já estabeleceram algumas bases para o avanço das negociações: os indicadores de sucesso do Objetivo Global de Adaptação serão voluntários, dependerão das circunstâncias de cada país e não poderão ser usados como condição para que nações vulneráveis tenham acesso ao financiamento climático.

Outro desafio que se espera ver resolvido nesta semana, explica Swaby, diz respeito ao montante total que os países irão destinar à adaptação climática — que não se limita ao Fundo de Adaptação, apenas um entre diversos mecanismos de financiamento nessa área. Observadores aguardam para ver “como países vão sair da COP com o compromisso de dar mais escala ao financiamento de adaptação, particularmente porque o compromisso feito na COP26 em Glasgow (em 2021) de dobrar as finanças de adaptação de US$20 bilhões para US$40 bilhões expira este ano”, diz Swaby.

Anna Carcamo, especialista em política climática do Greenpeace Brasil, destaca três temas principais em que há expectativa de avanços a partir da articulação entre os países: o financiamento público de países desenvolvidos para os em desenvolvimento; o aumento da ambição nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês); e a adoção e implementação de mais Planos Nacionais de Adaptação (NAPs, na sigla em inglês).

“A gente espera que os países consigam avançar e chegar em consenso sobre triplicar o financiamento de adaptação, a necessidade de aumentar a ambição climática nas NDCs, reduzindo mais emissões. Agora que as conversas seguem para o nível ministerial, os ministros podem flexibilizar posições”, explica.

Esta reportagem foi produzida por InfoAmazônia, por meio da Cobertura Colaborativa Socioambiental da COP 30. Leia a reportagem original em: https://infoamazonia.org/2025/11/17/seis-paises-anunciam-doacao-de-us-585-milhoes-para-fundo-de-adaptacao/ 

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