Ministra resgata lenda amazônica temida por seringueiros e reforça defesa da floresta viva
Autora: Bruna Obadowski
Em Belém, no calor da COP30, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, adotou o tom duro que muitos setores rurais preferem fingir que não escutam. Durante o “Porongaço dos Povos da Floresta”, marcha que tomou as ruas da capital paraense na manhã desta quinta-feira (13), ela disparou:
“Quem desmata precisa pegar uma carreira gogó de sola por aí.”
A fala, curta e certeira, faz referência a um personagem mítico da cultura acreana: o Gogó de Sola, pequeno macaco temido entre extrativistas por atacar o calcanhar e só largar a presa depois de perder a própria cabeça. “Esse macaco é pequenininho, mas ele morde a gente no calcanhar”, completou Marina, lembrando histórias que escutava do pai durante a infância no Acre.
A metáfora caiu como luva no ato convocado pelo Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), que reuniu mais de mil vozes da floresta em defesa dos territórios extrativistas, da responsabilidade climática global e da luta contra o desmatamento — temas geralmente empurrados para as franjas das negociações oficiais, mas que seguem pulsando nas bases.
Marina, que foi amiga e companheira de luta de Chico Mendes, fez questão de resgatar sua memória diante da multidão.
“Viva a luta dos seringueiros. Viva a memória de Chico Mendes”, disse, emocionada.
O ambientalista assassinado em 1988 é símbolo da criação das Reservas Extrativistas (RESEX), modelo que garantiu autonomia produtiva às populações da floresta e freou o avanço predatório que a ditadura e o latifúndio empurravam sobre a Amazônia.
Caminhada iluminada por porangas: símbolo da resistência
Os extrativistas caminharam entre a Praça Eneida de Moraes e a Aldeia Cabana carregando a poranga — lamparina usada nas noites de trabalho na mata e símbolo histórico dos empates, a forma de resistência pacífica organizada entre as décadas de 1970 e 80 para enfrentar grileiros e madeireiros.
À frente da marcha, a faixa sintetizava o recado:
“A morte da floresta é o fim da nossa vida.”
Para Letícia Moraes, vice-presidenta do CNS, o Porongaço é mais que um ato: é a reafirmação de um modo de viver. “Hoje, o Porongaço resgata esse símbolo como metáfora da esperança, da coletividade e da luta. A floresta está viva porque seus povos cuidam dela.”
—
Esta reportagem foi produzida por A Lente, por meio da Cobertura Colaborativa Socioambiental da COP 30. Leia a reportagem original em: https://alente.com.br/2025/11/14/quem-desmata-precisa-pegar-uma-carreira-de-gogo-de-sola-por-ai-dispara-marina-silva-em-ato-de-extrativistas-durante-a-cop30/















