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Fora dos espaços fechados de negociação que restringem a participação popular, a Cúpula dos Povos é uma articulação de movimentos sociais e povos indígenas que ocorre na Universidade Federal do Pará (UFPA) entre os dias 12 e 16 de novembro, com expectativa de reunir centenas de participantes. 

Texto de Laura Guido. Edição Carla Fischer

Uma barqueata marca o início da programação do principal espaço de debate paralelo à Conferência das Partes (COP30) nesta quarta-feira (12), a Cúpula dos Povos. A iniciativa busca amplificar as vozes de indígenas, comunidades tradicionais e trabalhadores rurais que vivenciam os efeitos da crise climática e deve reunir mais de 200 embarcações e cerca de 5 mil pessoas na Baía do Guajará, em Belém.

Entre as organizações envolvidas estão a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Dineva Kayabi, coordenadora-tesoureira da entidade, lembra que esta é a primeira vez que os povos indígenas têm uma representação significativa na COP. No entanto, mesmo com o evento ocorrendo na Amazônia, a presença indígena nas mesas de negociação ainda é limitada. “Isso é uma pena, porque o mundo perde as grandes contribuições que os povos indígenas poderiam oferecer, inclusive para fortalecer o papel do Brasil como liderança climática”, afirma Dineva.

Na contramão da programação oficial da Blue Zone, no Parque da Cidade, a Cúpula dos Povos se consolida como espaço de resistência e representatividade de organizações e movimentos que defendem a soberania dos povos e a preservação da Amazônia. “Apesar de não estarmos na mesa de negociação, temos as propostas e caminhos para a justiça climática, e isso começa com a demarcação dos nossos territórios e o financiamento direto”, conclui Dineva.

Pablo Neri, da Direção Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que mobiliza mais de 1,5 mil militantes de todo o país, reforça que o objetivo é discutir diferentes áreas estruturais da sociedade a partir da participação popular. “Dentro da unidade de mais de 400 organizações que assinaram o manifesto em 2023, estamos envolvidos desde a programação até o desenvolvimento dos eixos de trabalho, divididos em saúde, segurança, formação, cultura e alimentação”, explica.

Além da programação principal, os movimentos estão organizando um grande acampamento com capacidade para mais de 10 mil pessoas. “Durante a Cúpula dos Povos, militantes de todo o Brasil estarão acampados, e o MST participa com cerca de 1.500 pessoas”, complementa Pablo.

Após a barqueata e a chegada das caravanas, a programação segue com acolhida à tarde e abertura oficial à noite, com falas das organizações e uma agenda cultural. Nos dias seguintes, uma Feira Popular ocupará os corredores da UFPA, junto com rodas de conversa, debates e os chamados Eixos de Convergência, que aprofundam temas definidos coletivamente pelos movimentos que elaboraram o manifesto.

Um dos momentos mais esperados é a Marcha dos Povos pelo Clima, no sábado (15), que deve percorrer as ruas de Belém em defesa dos territórios e por justiça climática. A Coiab é uma das organizações centrais na construção da Cúpula e representa a mobilização dos povos indígenas. 

A programação completa da Cúpula dos Povos está disponível aqui.

Sobre a Cúpula dos Povos

Também participam o Instituto Zé Cláudio e Maria (IZM), de Marabá, referência na defesa dos direitos humanos e ambientais, além do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e de outras dezenas de grupos quilombolas, ribeirinhos e organizações populares que participarão dos debates na UFPA. 

A preparação para a Cúpula dos Povos começou em 2023, após o evento Diálogos Amazônicos, também realizado na UFPA, que antecedeu a Cúpula da Amazônia, encontro entre chefes de Estado em Belém, dois anos antes da COP. Naquele momento, foi deliberado coletivamente que a Cúpula dos Povos seria realizada em paralelo à conferência climática.

O manifesto da Cúpula está dividido em quatro eixos: Territórios e Maretórios Vivos, Soberania Popular e Alimentar; Reparação histórica, combate ao racismo ambiental, às falsas soluções e ao poder corporativo; Transição justa, popular e inclusiva; e Luta contra opressões, pela democracia e pelo internacionalismo dos povos. Esses eixos orientam os debates e mobilizações dos próximos dias.

Esta reportagem foi produzida por Amazônia Vox, por meio da Cobertura Colaborativa Socioambiental da COP 30. Leia a reportagem original em: https://www.amazoniavox.com/noticias/view/467/paralelo_a_cop_cupula_dos_povos_reune_movimentos_sociais_e_de_indigenas_em_belem 

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