Texto: Alice Martins Morais. Edição: Natália Mello.
Foto: Marx Vasconcelos
Passado o incêndio desta quinta-feira (20) na Blue Zone, as negociações foram retomadas e o último dia oficial da COP30 começou mais cedo, para tentar acelerar os processos. Novos textos já foram publicados durante a madrugada desta sexta-feira, inclusive. A pressa é justificada: a emergência climática já é realidade e há países insulares que correm um sério risco de desaparecer em um futuro breve por conta do aumento do nível do mar.
Vanuatu, por exemplo, localizado no meio do Oceano Pacífico, é um dos países mais vulneráveis a desastres naturais do mundo. O país é formado por mais de 80 ilhas e está situado a quase 2.000 km a leste da Austrália. Não à toa, quando a Blue Zone ainda estava fechada, representantes da delegação do país se reuniram em uma padaria, em Belém, para firmar acordo com a Initiative for Climate Action Transparency das Nações Unidas, com o objetivo de aumentar a transparência nos relatórios de conformidade com o Acordo de Paris, segundo reportagem da EXAME.
Tuvalu, outro pequeno país formado por um conjunto de ilhas no Pacífico, também torce por resultados rápidos. “Isso [a crise climática] está sempre na minha mente, o futuro de um país inteiro depende desses tipos de resultados”, ressalta Ian Fry, que trabalha no governo de Tuvalu há 24 anos.
Ele foi embaixador para Mudanças Climáticas e Meio Ambiente do país entre 2015 e 2019 e viu o Acordo de Paris nascer. Também foi o primeiro Relator Especial das Nações Unidas para a promoção e proteção dos direitos humanos no contexto das alterações climáticas. Fry esperava que o apelo nos últimos dias de mais de 80 países, para traçar um mapa do caminho de transição para longe dos combustíveis fósseis, fosse recebido ainda na quarta-feira (18) como um sinal forte para ações mais robustas, pelas outras 114 nações presentes na COP30.
Agora, avalia que as discussões ainda estão em seus “baby steps“, pequenos passos para implementação de metas climáticas mais ambiciosas, especialmente no que tange aos combustíveis fósseis. “Não vejo nada realmente substancial saindo desta COP em questões importantes. Quer dizer, do ponto de vista de um pequeno estado insular, obviamente não estamos avançando rápido o suficiente. Mas isso é por causa das táticas de alguns países para retardar o processo. E essa é a natureza dos processos de tomada de decisão baseados em consenso”, analisa.
Relatos de bastidores das negociações indicam que países produtores do petróleo, como a Arábia Saudita, têm bloqueado o avanço desse tópico. Não à toa o último texto da Decisão Mutirão, publicado às 3h da sexta-feira, retirou o termo “combustíveis fósseis”, que estava presente no primeiro rascunho de terça-feira.
Apesar de não esperar uma declaração forte de eliminação gradual dos combustíveis fósseis nesta edição da COP, o que Fry considera que seria um ótimo sinal, ele diz que ter esperança é a única opção que resta. “Sabemos que há tempos políticos muito desafiadores no momento, com uma administração Trump negando as mudanças climáticas, vivemos tempos muito desafiadores. Mas temos que agarrar a esperança do processo multilateral, este processo da ONU em que todos os outros países estão dispostos a fazer alguma coisa. E isso nos dá esperança, sabe, que podemos trabalhar juntos para, pelo menos, dar alguns pequenos passos”, assinala.
Considerando que muitos países têm pequenas ilhas baixas e vulneráveis ao aumento do nível do mar – como é o caso da Ilha do Marajó, na Amazônia -, Fry declara que “podemos aprender uns com os outros e tentar ter uma voz forte nesses tipos de processos”.
“Era a minha ambição de vida ver a Amazônia de perto”, revela Ian Fry
Para Fry, ter uma COP na Amazônia é uma mudança de ares “revigorante”, e ele diz torcer para que isso inspire as delegações a ter um resultado forte. “É uma COP em que podemos ver o ambiente ao nosso redor e não ter a conferência em um ambiente artificial de um país produtor de petróleo que claramente influenciou o resultado”, argumenta.
O ex-embaixador acredita que vivenciar a região, estar perto da floresta e do rio, é uma experiência marcante. “Era a ambição da minha vida ver a Amazônia. Então, fiquei muito emocionado por poder sair e realmente experimentar a Amazônia e a floresta tropical. enquanto estive aqui”, compartilhou.
Especialista em Direito Ambiental e Política de Direitos Humanos, Fry revela que gostaria de ver mais atenção aos oceanos nos textos finais da COP30. “Já estamos testemunhando a movimentação de estoques de peixes para longe de nossas ilhas por causa do aquecimento dos oceanos. E, claro, os oceanos, à medida que aquecem, criam tempestades mais severas e isso causa estragos em países como Tuvalu”, conclui.
Esta reportagem foi produzida por Amazônia Vox, por meio da Cobertura Colaborativa Socioambiental da COP 30. Leia a reportagem original em https://www.amazoniavox.com/noticias/view/541/o_futuro_de_um_pais_inteiro_depende_desses_tipos_de_resultados_ressalta_representante_do_tuvalu















