Scroll Top

A chegada de Lula ocorre em meio à articulação por um roadmap para abandonar petróleo, gás e carvão. Na véspera, ministros de vários países apoiaram a proposta, que já conta com a adesão de mais de 80 nações.

Autor: Fábio Bispo

O presidente Lula (PT) desembarca em Belém nesta quarta-feira (19), com a missão de colocar seu capital político em campo e tentar realinhar o apoio internacional ao Mapa do Caminho para o fim dos combustíveis fósseis, a principal aposta diplomática brasileira na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30).

A chegada de Lula ocorre em meio a uma intensa articulação entre países favoráveis à construção de um roteiro global para abandonar petróleo, gás e carvão. Na véspera, ministros de diversos países manifestaram apoio público à proposta, e fontes do governo brasileiro estimam que mais de 80 nações já haviam aderido. O número ainda não garante uma mudança de rota nas negociações, mas é considerado suficiente para recolocar o tema no centro das mesas.

Lula terá agora o desafio de convencer sobretudo países árabes, Índia e Japão, que, segundo fontes consultadas pela InfoAmazonia, seriam os mais resistentes à inclusão do roadmap no texto final de Belém. Para driblar essa dificuldade, a presença do presidente poderá indicar um caminho alternativo, como a inclusão dessa meta nas NDCs dos países.

“Nunca estivemos tão perto de termos uma decisão sobre como o mundo irá gradualmente abandonar o petróleo. A questão agora é garantir que os opositores sejam encurralados pela vontade geral e pela melhor ciência disponível”, explica Caio Victor Vieira, especialista em Políticas Climáticas do Instituto Talanoa.

Para o Observatório do Clima, o momento é estratégico. “O presidente Lula foi claro: esta COP precisa entregar um roteiro para o fim dos combustíveis fósseis. Agora é hora de transformar apoio político em resolução no texto final”, disse o secretário-executivo Márcio Astrini.

COP30 prepara pacote político

O governo brasileiro trabalha para aprovar, até o fim da conferência, uma primeira versão do Mutirão Global, conjunto de decisões políticas que pode estruturar o roteiro internacional de descarbonização. O texto-base já orienta reuniões paralelas, encontros ministeriais e negociações bilaterais.

Em carta enviada aos países, o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, afirmou que pretende apresentar até esta quarta-feira uma primeira versão do Pacote de Belém, seguido de um documento mais técnico na sexta-feira (21).

“Propomos concluir parte significativa do nosso trabalho para que uma reunião plenária sobre o pacote político de Belém possa ocorrer até o meio da semana”, disse. 

O texto-base disponibilizado pela presidência apresenta 21 opções de redação distribuídas em quatro temas centrais: novas metas climáticas (NDCs), distribuição dos US$ 300 bilhões prometidos para financiamento climático, barreiras comerciais e mecanismos de transparência.

Para Jasper Inventor, diretor adjunto de programas do Greenpeace Internacional, o desafio agora é “eliminar as opções que prolongam atrasos e ignoram a urgência da ação”.

Presidência da COP30 reflete o que passa nas negociações

Apesar da mobilização brasileira, a postura do presidente da COP30 revela o peso das resistências dentro da conferência. O papel de Corrêa do Lago é o de conduzir a conferência “sem advogar por nenhuma causa”, como explica um interlocutor do Itamaraty — e isso tem se refletido nas suas declarações públicas.

Na semana passada, ele afirmou que o roadmap brasileiro ainda precisava “encontrar um lugar” nas negociações da COP30: “o assunto já foi debatido em Baku [COP29]. É um tema importante, sem dúvida, mas como não há acordo, sabemos que são discussões abertas. Não é o foco das discussões atuais.”

No mesmo encontro, disse que o mapa para o fim dos combustíveis fósseis é, por ora, “uma meta brasileira”. Questionado pela InfoAmazonia se suas declarações enfraquecem o esforço diplomático do país, Côrrea do Lago preferiu não responder.

Fontes que acompanham as negociações apontam que países árabes produtores de petróleo, Índia, grande produtora de carvão, e o Japão, lideram o bloco contrário à inclusão do roadmap no texto final do Pacote de Belém.

Esta reportagem foi produzida por InfoAmazônia, por meio da Cobertura Colaborativa Socioambiental da COP 30. Leia a reportagem original em: https://infoamazonia.org/2025/11/19/lula-desembarca-em-belem-para-unificar-discursos-e-avancar-em-mapa-para-o-fim-dos-combustiveis-fosseis/

 

Posts relacionados

Privacy Preferences
When you visit our website, it may store information through your browser from specific services, usually in form of cookies. Here you can change your privacy preferences. Please note that blocking some types of cookies may impact your experience on our website and the services we offer.