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Pesquisa aponta que o Brasil pode neutralizar suas emissões já em 2040, se zerar o desmatamento, ampliar a restauração e transformar o setor energético

Texto de Julia Ladeira. Edição Carla Fischer. Revisão Samantha Mendes.
Fotos de Netzerogreen e Érika Sena.

O Brasil pode zerar suas emissões de CO₂ já em 2040, se conseguir eliminar o desmatamento até 2030, ampliar o reflorestamento e a restauração de áreas degradadas e incentivar a agricultura regenerativa. Esse é um dos cenários do estudo Brazil Net-Zero by 2040, idealizado pelo Instituto Amazônia 4.0 e financiado pela Sequoia Foundation e pela Rockefeller Brothers Foundation, que propõe caminhos para substituir combustíveis fósseis. Entre os cientistas que coordenaram o trabalho está a pesquisadora amazônida Nathália Nascimento.

A pesquisadora explica que o objetivo da iniciativa é demonstrar que o Brasil pode atingir a neutralidade de gases de efeito estufa (GEE) uma década antes da meta atual. “Nós temos setores chaves que podem contribuir para que isso aconteça. Temos tecnologia, principalmente na área de agricultura. Não precisamos necessariamente escolher entre um cenário e outro, mas sim ver onde é estratégico fazer escolhas”, afirma Nathália.

Os setores aos quais ela se refere são o de Agricultura, Florestas e Uso do Solo (AFOLU – 2040) e o ENERGY – 2040, focado no setor energético como principal responsável pela transição. O AFOLU aposta em uma estratégia mais moderada, baseada na natureza e no manejo da terra, como restauração e agricultura regenerativa, para capturar carbono e atingir a meta, mantendo parte da indústria fóssil. Já o cenário ENERGY 2040 propõe uma transformação tecnológica e energética, com eletrificação, eliminação do petróleo e uso de Bioenergia com Captura e Armazenamento de Carbono (BECCS) para descarbonizar completamente a economia, exigindo mudanças estruturais profundas, como o fechamento de refinarias.

Apesar de o setor energético propor uma ação mais ousada, o cenário AFOLU é considerado o mais eficiente na captura de carbono, devido à expansão da vegetação nativa e ao manejo sustentável no setor agropecuário. “Nós precisamos urgentemente zerar o desmatamento e ganhar escala na restauração, fazendo uma mudança na forma como a agricultura funciona hoje no Brasil”, afirma a pesquisadora.

Ela reforça ainda que a proteção florestal não deve ser usada como compensação para a queima contínua de combustíveis fósseis e destaca a importância da ciência amazônida para pensar a floresta a partir da perspectiva de quem vive nela. “Nós amazônidas temos uma visão diferente sobre o que é a floresta, o que ela significa. A gente precisa de um modelo de ciência amazônida onde todas as múltiplas simbologias sejam inseridas”, afirma.

O impasse dos combustíveis fósseis e a resposta da ciência

Após dias de indefinição nas negociações e a divulgação dos primeiros textos do roteiro para a transição dos combustíveis fósseis, cientistas reagiram classificando o documento como uma “provocação”. Para Johan Rockström, o texto precisa indicar com clareza onde estamos, qual caminho devemos seguir e como chegar a um futuro sem combustíveis fósseis. “Os delegados parecem não entender o que é um roteiro. Um roteiro não é um workshop ou uma reunião ministerial”, afirma.

Segundo os cientistas, é indispensável aproximar as emissões absolutas de combustíveis fósseis do zero até 2040, no máximo, até 2045, já que a queima desses combustíveis é a causa principal da crise climática. De acordo com Thelma Krug, presidente do Conselho Científico da COP30, “o roteiro para acabar com o desmatamento precisa incluir apoio financeiro, capacitação e monitoramento robusto. A proteção florestal não pode ser usada como créditos de carbono”.

As medidas, afirmam, precisam ser ousadas: nenhum novo investimento em combustíveis fósseis deve ocorrer em nível global, os subsídios ao setor precisam ser eliminados e os países ricos devem financiar a transição dos países em desenvolvimento. Para Nathália, as negociações da COP se distanciam da realidade e colocam em questionamento os limites da conferência.

“Estamos com recordes de temperatura e emissão de gases, além de aumento de desastres naturais. Se a gente não olhar para isso com atenção, nós estaremos perdidos. Não olhar para a principal fonte de emissão é uma perda para todos nós”, alerta a pesquisadora.

Esta reportagem foi produzida por Amazônia Vox, por meio da Cobertura Colaborativa Socioambiental da COP 30. Leia a reportagem original em https://www.amazoniavox.com/noticias/view/542/florestas_podem_ajudar_brasil_a_antecipar_net_zero_aponta_estudo?src=hh 

 

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