Mesmo pressionado por acordos internacionais, o país mantém avanço da fronteira petrolífera e prioriza mercados de carbono.
Texto de Isabel Alarcón. Edição Ricardo Garcia. Revisão Carla Fischer.
O Equador é um dos três países da Bacia Amazônica que, até esta sexta-feira, 21 de novembro, não apoia a criação de um roteiro para estabelecer prazos claros para alcançar uma transição para longe dos combustíveis fósseis. Perto do fim da conferência climática da ONU em Belém, 84 países já haviam aderido à proposta. O Brasil, proponente da iniciativa, a Colômbia, o Peru, a Guiana e o Suriname são os países amazônicos que fazem parte desse grupo.
“No final das contas, devemos aceitar como país, que essas atividades fazem parte da nossa estrutura econômica. Não foi dito que vamos abandoná-las, mas sim conseguir que essas atividades se transformem em algo mais verde e sustentável e mais compatível com o meio ambiente e as comunidades”, disse Daniela Limongi, vice-ministra do Meio Ambiente e Marinha Costeira do Equador, ao ser questionada sobre a ausência de seu país nesta lista.
Em linha com essa posição, Inés Manzano, ministra do Meio Ambiente e Energia do Equador, reitera a ideia. “Nós dependeremos dos combustíveis fósseis até que sejamos 100% independentes, e isso vai levar muitos anos”, disse à agência EFE.
As falas das autoridades acompanham os planos já anunciados pelo país. No final deste ano será lançada a rodada Subandina, na Amazônia central, e no início do próximo ano começará a rodada Suroriente, também na mesma região.
No entanto, evidências científicas, como o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), demonstraram que não é possível abrir novos poços se se quiser cumprir o Acordo de Paris, do qual o Equador faz parte. Além disso, na COP28 realizada em Dubai, os países se comprometeram a avançar na transição para longe dos combustíveis fósseis durante o primeiro Balanço Global.
Reações dos povos indígenas na COP
A posição oficial deste país gerou reações entre representantes dos povos e nacionalidades indígenas do Equador, que estão presentes em Belém. Na tarde desta quarta-feira, um grupo de líderes Kichwas e Waoranis, duas das 11 nacionalidades indígenas que habitam a Amazônia equatoriana, se posicionou do lado de fora da COP30 com cartazes exigindo o fim das atividades petrolíferas no Equador.
“Os direitos indígenas não são negociáveis”, dizia a faixa segurada por Juan Bay, presidente da nacionalidade Waorani do país, segurava. Esse povo indígena foi contatado há cerca de 60 anos, e hoje vê seu território ameaçado pelo avanço da fronteira petrolífera.
Além disso, esses líderes têm sido os principais defensores do cumprimento da Consulta Popular de 2023, quando 60% dos equatorianos votaram pela interrupção da extração de petróleo em um bloco do Parque Nacional Yasuní, considerado um dos locais com maior biodiversidade do planeta.
“Vemos com preocupação o que a ministra disse, ainda mais levando em conta que ela disse isso na COP30, onde se supõe que seja um espaço para falar sobre transição energética. Nos preocupa que ela diga que vai avançar com a exploração de combustíveis fósseis no Equador”, afirma Luis Canelos, presidente da Pakirru, organização que representa as 16 comunas, associações e povos da nacionalidade Kichwa da província de Pastaza.
Além disso, ele explica que as sete nacionalidades indígenas que habitam Pastaza se uniram para impedir a expansão da fronteira petrolífera, por meio das novas rodadas Suroriente e Subandina, que afetarão diretamente esta província, localizada na Amazônia sul do Equador. “Exigimos que o Estado cumpra com a consulta prévia, livre e informada”, acrescenta.
Os mercados de carbono são a prioridade
Por outro lado, a vice-ministra do Meio Ambiente e Assuntos Marítimos e Costeiros do Equador afirma que o objetivo é tornar as atividades extrativas mais sustentáveis e “alcançar um maior compromisso ambiental e com as comunidades”.
No entanto, no caso das novas rodadas que serão abertas na Amazônia sul, os representantes indígenas denunciam que não foram informados nem consultados pelas autoridades.
Para o Equador, outro ponto central das negociações tem sido o financiamento para adaptação climática e os mercados de carbono. “Temos que construir toda a infraestrutura de que precisamos, como regulamentação, equipamentos e tudo o que precisamos para operacionalizá-la”, diz ela. A ideia é dinamizar o financiamento e melhorar as oportunidades de investimento de forma gradual.
Esta reportagem foi produzida por Amazônia Vox, por meio da Cobertura Colaborativa Socioambiental da COP 30. Leia a reportagem original em https://www.amazoniavox.com/noticias/view/551/equador_longe_da_transicao_dos_combustiveis_fosseis_e_a_caminho_dos_mercados_de_carbono?src=hh















