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Mais de 30 crianças sentaram-se à mesa com cinco adultos para discutir mudanças climáticas, realizar e responder a questionamentos sobre o que está em jogo neste momento: o futuro do planeta.

As crianças, que pouco contribuem para a crise climática, mas estão entre as mais afetadas por seus danos, assumiram o protagonismo em uma roda de conversa com cinco mulheres adultas na COP30, em uma atividade promovida pelo Instituto Alana.

 

Dados de um estudo do Núcleo Ciência pela Infância apontam que crianças nascidas em 2020 enfrentarão sete vezes mais ondas de calor do que aquelas nascidas nos anos 1960. Por isso, a presença efetiva das crianças em espaços de debate pode contribuir para reverter esse quadro e oferecer um futuro mais sustentável. 

 

Três crianças indígenas participaram do encontro representando Povos Indígenas da região do Amazonas, Manchineri, Sateré-Mawé e Baré. Os pequenos Luna Manchineri, Yará Sataré-Mawé e Vicente Baré apresentaram um manifesto sobre as múltiplas realidades que vivem e relataram que estar nesse espaço é uma experiência única, capaz de contribuir para o futuro e melhorar o clima enquanto ainda há tempo. “Nós, povos indígenas, somos quem mais preserva a natureza”, enfatiza Vicente Baré.

 

Em Belém, adolescentes atuam com solução sustentável para diminuir o calor nas salas de aula

Entre os jovens presentes estavam os adolescentes Dyéllem Gomes e André Acácio, do projeto de Placas de Controle Térmico, desenvolvido na Escola Estadual Salesiana do Trabalho, em Belém. Eles apresentaram, durante o debate, uma solução criada em setembro de 2024 – uma placa de controle térmico feita com caroços de açaí descartados irregularmente, para enfrentar o calor nas salas de aula.

A iniciativa deu nova utilidade ao caroço de açaí ao transformá-lo em uma placa capaz de regular a temperatura de um ambiente, funcionando para frio ou calor sem necessidade de ajustes externos. De acordo com os estudantes, o processo envolve coleta dos caroços; trituração em equipamento industrial da escola; mistura com um aglomerante; inserção em bandejas; e exposição em ambiente aberto para secagem por cerca de dois dias.

A partir dessa iniciativa, os jovens chegaram ao espaço institucional proporcionado pela Convenção-Quadro das Nações Unidas (UNFCCC), sobre o Clima e viabilizado pelo Instituto Alana. Para Dyéllem, o mais importante é que o projeto ganhe visibilidade em espaços de relevância. “É importante para o nosso projeto ganhar mais visibilidade e ser feito em outras escolas, porque pode melhorar a qualidade da presença do estudante em sala de aula”, explica.

Paralelamente, André destacou que, como adolescente de 17 anos, participar de espaços de discussão política, climática e econômica é uma oportunidade para desenvolver o pensamento crítico, e reforçou a importância da escuta. “Mostra a importância de líderes mundiais escutarem crianças, adolescentes, pessoas da periferia e quem enfrenta todo dia as mudanças climáticas que eles discutem sem viver na prática”, diz, em alusão ao calor que enfrentam no cotidiano da sala de aula.

Além disso, os adolescentes destacaram momentos centrais das falas dos colegas durante a discussão, o manifesto das crianças do Amazonas; e a fala de João do Clima, que luta pela comunidade da Ilha de Outeiro e conseguiu dar visibilidade às demandas locais para mostrar que “a gente vive aqui, precisamos de respeito e de mais políticas públicas”, ressaltam.

O diálogo intergeracional envolveu crianças, adolescentes e lideranças importantes para a pauta climática. “A principal motivação da realização desse diálogo intergeracional é compreender que crianças são as mais impactadas pela crise climática, mas elas também são agentes de mudança e devem participar dessas discussões”, diz Letícia Carvalho, representante do Instituto Alana.

Nesse sentido, os direitos das crianças devem ser reconhecidos e compreendidos com prioridade absoluta. No contexto internacional, de acordo com a Convenção dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas, isso é chamado de consideração primordial. “As soluções para o clima precisam ser muito mais benéficas e criativas, não só pelas crianças, mas para as crianças também”, conclui.

LEGADO
“O nosso principal objetivo é que se deixe um legado, que a COP30 seja a COP das crianças, mas que ela inspire também outras edições para que essa participação significativa, segura, adequada, possa acontecer em outros anos também”, propõe Letícia.

Apesar do exemplo da presidência brasileira da COP ao propor a presença das crianças, surge um questionamento a partir do lançamento da Declaração Global sobre crianças, equidade intergeracional e ação climática: “Então, agora a gente quer ver os outros países, né? E as outras presidências da COP, assinando também esse compromisso de adultos em relação às crianças”, finaliza.

Esta reportagem foi produzida por Amazônia Vox, por meio da Cobertura Colaborativa Socioambiental da COP 30. Leia a reportagem original em 

https://www.amazoniavox.com/noticias/view/518/criancas_lideram_dialogo_climatico_na_cop30 

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